sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Continuar caminhando


Minha perna direita parece estar quebrada, como conseguirei sair daqui? Onde realmente estou? Para onde ir? Mal consigo acreditar que um dia vivi em um castelo cercado de pessoas, festas, risos, luxo e tudo o que eu precisava pra ser feliz, hoje estou aqui, só, e sentindo essa terriível sensação que tudo isso, todo esse esforço em tornar-me um honrado guerreiro e voltar à vila com toda glória, de nada vale, minha luta é sem sentido e maldita, como partirei em busca do ferreiro sem nem ao menos saber onde estou? Sobrevivi à tempestade, sobreviverei agora? O que fazer?

Tsuru sente a perfídia sensação de abandono, solidão e esquecimento, levanta-se com um esforço sem medida e tenta colocar-se de pé, mas cai, tem certeza agora que sua perna esta realmente quebrada, sente-se como um elefante que ferido foi deixado para trás pelo resto do bando, e será em breve abatido pelos terríveis sentimentos da alma, e pela falta de vigor e alimento que uma travessia imprime ao peregrino.

Farei uma tala, há muitas árvores aqui e vou procurar uns galhos fortes para fazer um apoio e uma tala , isso vai doer, mas vai colocar esse osso no lugar e me permitir andar, não posso ficar aqui parado, por mais que eu seja um poço de duvidas e descrença, é preciso caminhar.
Quebrando galhos e usando rasgos de sua calça de couro, Tsuru faz uma tala para imobilizar a perna e com outros pedaços de madeira, apoios para se locomover, consegue criar pernas artificiais e resistindo a dor, caminha lentamente para fora daquele charco, enquanto caminha cria versos em sua mente para elevar a alma e distancia-lo dos mosntros internos.

Lama úmida e breu fértil
Eis aqui seu guerreiro
Um peito cheio de flechas e amores
Esses pés caminharam os mais lindos bosques de crisálidas
Alfazema, Artemísia, lirios...
Sonhei que um dia era um dragão
E das ventas brumas quentes de um coração valente
Cuspia fogo e um fogo advindo da alma
Eis a cor da coragem
Eis minha sina infame
Para amar mais, morrer ao fim do dia, renascer em pulsar vivido de lancinante dor por ser eu.
Sereno busco o furor das ondas, e a quietude das montanhas
Este é o meu legado
Palavras, e olhos de diamante.

O charco ainda fazia parte da paisagem do guerreio, todo o céu se refletia nas poças adiante, enquanto as já pisadas, eram matizes de luz e caos.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Calmaria


O sopro divino deixou meu veículo denso, devo estar morto, transitando entre universos paralelos antes de minha derradeira entrada nas moradas celestes de Saguian, a divina personalidade, o mestre supremo, a essência pura.

Há luz!

Sinto meus dedos

Algo dói em minha perna, a dor é em si inexistentes nos reinos superiores, creio que ainda estou vivo.

Abrindo as pálpebras levemente como uma borboleta em seu esforço para sair de seu casulo, Tsuru respira os primeiros raios da manhã pós tempestade, tudo agora é calmaria, até mesmo o vento é tão suave que parecem notas musicais de uma sinfonia cosmicamente doce e calma.Deitado, e tendo seu corpo semi mergulhado em água, Trsuru vê a imensidão do céu, não há mais altas árvores, move os braços e sente dores, sentando-se com muito esforço, leva uma das mãos ao tórax e demonstra mais dor em um gemido bruto, porém em baixo tom, e ainda assim era o único som a se ouvir naquele amanhecer. Senta-se, percebe que o lugar onde a enxurrada o levou é muito diferente da margem ode se instalara para iniciar sua travessia, é um charco, centenas de árvores sem folhas de raízes n´água a se perder de vistas, parecem veias de um corpo azul e imenso.
A água em que me encontro é salobra e de uma cor levemente amarronzada, boa para beber.
Não sei como ainda estou vivo, todo meu corpo dói e devo provavelmente estar com alguns ossos quebrados, Saguian deve realmente ter atendido meu pedido, em ti sou uno meu guia, e a ti serei fiel pelo resto de meus dias.

Observando ainda a paisagem e o sabor único daquilo que tem fôlego e louva a suprema criação, Tsuru irradia paz e fé. Está novamente em algum lugar que não sabe onde, perdeu todas as suas coisas na tempestade, todos os suprimentos e preparativos, as sementes guardades, os alimentos colhidos, as cotas de couro preparadas . Sentiu mesmo que tudo é mesmo imprevisível, ainda mais em se falando da natureza, que em certos momentos parece as dores que causamos a ela. Tsuru inicia um mantra, canta um hino que sua mãe o ensinou, dizia ela, que essa melodia entoada varias tem o poder de curar males. Ele não recorda que tipo de males, mas sabe que a dor é algo que lateja, por muitas vezes a mente, outras o corpo, e tantas outras a alma. Esperançar, revitalizar e abrandar as dores.

Tsuru canta.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

A Tempestade

Não posso crer, que tormenta, a chuva transformou-se numa terrível tempestade.
Sou tomado de açoite por galhos, pedras, folhas e lama, muita lama. È tanta água em meu rosto que mal consigo enxergar.

Surdam-me os trovões, que barulho amedrontador meu Saguian, olhe por mim neste momento, já não posso mais crer que conseguirei um lugar seguro para me proteger dessa tempestade, me vem todos os tipos de imagem em minha mente assustada, minha família, meus amigos, a mulher que amo e com quem desejo viver os restos de meus dias, os filhos que desejo ter, as flores que ainda não conheço, que terror!! Estaria eu sendo condenado neste momento? O que teria eu feito? o que teria eu deixado de fazer? Não!! Não posso dessistir!! Não posso!!

Tsuru se vê no olho do furacão, mal consegue enxergar o que está à frente, agarra-se ao tronco de uma árvore, em seu coração valente porém com uma mente ainda mal treinada para as tormentas da existência, crê ainda que conseguirá seguir em frente, e realmente é preciso crer, um guerreiro nunca desiste, mesmo quando tudo parece perdido.
Tsuru é arrastado por uma imensa quantidade de água que subitamente desce o rio com toda voracidade, parecia viva, parecia uma imensa boca salivando de fome.


Tsuru é arrastado pela correnteza de lama, destroços e caos.
Seu ultimo olhar antes de ser tragado por essa impiedosa força da natureza,
poderia caber a lua.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

O Vento

O vento tem ficado mais forte nos últimos dias, as chuvas estão chegando. Nossa! Como está ficando escuro o céu, e o vento mais forte, tudo cinza, uma imensa e densa nuvem cinza toma rapidamente todo o céu, tudo está balançando, tudo grita.

Sou tomado de açoite por folhas, galhos e até mesmo pedras que se erguem por meio de redemoinhos errantes, minha barraca sacoleja como que ao sopro de um gigante. Relâmpagos, vejo relâmpagos, hoje vai ser uma noite daquelas.

Oh, meu guia, proteja-me, não me deixe esquecer minha força, fortaleça a minha fé!
Vejo-me em meio a uma tempestade que se anuncia.

Estou só

Sinto medo.